Não deixe pra amanhã

Iza,Juba, Sister e Mommy nas despedidas de aeroportoHoje acordei pensando muito na Isabel. Ela foi a terceira pessoa importante que perdi na vida, antes foi meu pai e minha avó, mas a primeira que não era da família. Era a “babá” do Sergio, cuidou dele desde que nasceu, considerada uma segunda mãe por ele. Conheço desde pequena quando ela implicava com minha avó que me colocava sentada na janela, e essa dava de frente pra casa do Sergio. Isabel era uma figura única, não tinha no bairro quem não a conhecesse, os motoristas da cia de ônibus, que ficava na esquina, paravam pra ela subir em qualquer lugar da rua que estivesse.
Sempre me lembro dela quando estou em casa cozinhando, arrumando… porque ela sempre me dizia: “Ai Monica quero só ver quando você tiver sua casa viu”. Ela adorava me perturbar, me dava vários apelidos como magrela, esquizofrênica, sangue suga… era assim que ela demonstrava o carinho. Se ela me chamasse por Monica sem me xingar um dia, algo estava errado. A Isa era carente, qualquer demonstração de atenção com ela, já a fazia feliz. Não era de dar beijos e abraços, era durona, com aquele jeitão meio grosso de falar, mas demonstrava seu carinho de inúmeras outras formas, uma delas, fazendo todas as nossas vontades. Quantas vezes ela foi fazer batata frita pra mim, a noite, na praia quando tinha meus ataques de desejos, a melhor batata frita que já comi. Coração de ouro, pessoa que podíamos contar sempre, literalmente uma mãezona… Hoje pensei nela, e até conversei: “Viu Isa, estou dando conta direitinho… queria que você estivesse aqui pra ver que meu feijão saiu bom, a casa está organizada e o Sergio está sendo bem cuidado”. No fim, com certeza ela diria que sim, depois de colocar alguns defeitos, ha ha era o jeitão dela que muita gente não entendia, que também demorei um pouco para entender. Sentia que ela gostava de verdade de mim, também como uma filha. Claro que sem comparação com o que sentia pelo Sergio, mas eu sentia o carinho dela nos bilhetes que enviava por qualquer pessoa que viesse nos visitar em NY. Era um pra mim e outro separado pro Sergio. Não deixava de mandar cartão de natal, fotos do Alfredo (dog que deixamos lá), mimos que ela sabia que gostávamos, como balinha jujuba pro Sergio e chocolate Ferrero Rocher pra mim. Ia percebendo seu carinho e amor, nesses pequenos gestos.
Isa também tinha defeitos claro, como todos nós, e nos desentendemos muitas vezes. Quando fui morar com eles, nos aproximamos mais e passei por várias fases da minha vida, contando com o apoio dela. Ah como ela era dramática! Falava que ia morrer logo, que já estava cansada, que isso e que aquilo, mas no fundo a Isa só queria mesmo era nossa atenção e se sentir querida. Percebi que éramos mesmo como família, quando brigávamos e fazíamos as pazes… como briga de irmãos e pais e filhos, que podem ter 300 mas sempre voltam a se falar, como se nada tivesse acontecido e era assim com ela. Eu podia falar dos defeitos dela, mas se alguém de fora falasse eu não gostava. Falava MUITO, podíamos conversar horas… e quantas vezes conversamos sentadas na cadeira da cozinha vendo a TV… sempre lá. Que saudades…
Quando ouço “Pais e Filhos” do Renato Russo, me lembro dela, especificamente o trecho “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã”. Ela estava no hospital, para uma cirurgia da vesícula, jamais iria imaginar que dalí ela não sairia com vida. A última vez que nos falamos no telefone, ela no hospital, me perguntou quando íamos visita-la, e eu respondi que não sabia porque o Sergio estava trabalhando muito, eu tinha várias coisas a serem resolvidas naquela semana, e o hospital era do outro lado da cidade o que dificultava bastante. Ela reclamou, que ninguém do nosso lado tinha ido visitá-la e achei que era um chorinho habitual, que ela sempre fazia. Sergio foi no dia seguinte na hora do trabalho, eu estava de licença maternidade ainda com Luna bem novinha, planejava ir no final de semana. Não deu tempo de ir vê-la, ela se foi antes. Nesses pequenos momentos da vida quando a gente dá como certo que tudo estará sempre lá, e que pensamos amanhã a gente faz, aprendo que o importante é dar importância ao que é importante AGORA, “Porque se você parar pra pensar, na verdade não há!”. Grande Renato Russo, grande Isabel. Se tivermos outra menina, já escolhemos o nome: Isadora.

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3 Responses to Não deixe pra amanhã

  1. Angelica says:

    Monica, que linda declaraçao, ela iria realmente amar.

  2. MybIKE says:

    Mo,
    Só de ler me deu um aperto no coração, eu conheci quase nada a Isa, mas vendo essa tua declaração tenho certeza que ela sabia o quanto vcs a amavam.
    Linda declaração, imagino o quão comovidos vcs estão com esta lembrança e ela feliz lá sentindo isso.
    Beijo

  3. É Mônica, minha mãe sempre diz, a gente só dá valor ao que perde, ou seja temos que aproveitar o agora, como você comentou.
    Abraços