Morro de medo de avião, mas ao mesmo tempo ele me fascina. Fico sempre hipnotizada vendo eles decolando e pousando, acho misterioso, grandioso, potente, amedrontador. Com a minha irmã na aviação o medo duplica, fico tensa, e como sou neurótica por natureza, já sofro por antecipação.
Depois que ela entrou nesse ramo, vejo com outros olhos todos os comissários e pilotos. Ela desvendou boa parte do mistério depois de me contar os “bastidores”. Fico horas ouvindo as histórias e acho uma delícia. Aprendo bastante também, já sei que não tem cozinha no avião, aquele lugar se chama “Galley”. Elas trabalham feito loucas, servindo, checando, contando, organizando. A classe executiva, pasmem, mesmo tendo apenas 22 lugares dá mais trabalho que a econômica, é muito mais frescura, mais cuidado, mais tudo. Sei o que as irritam nos passageiros, e é bem engraçado viajar sabendo o que elas pensam de cada situação que acontece no avião. Quando elas colocam aquela roupa, se transformam em moças sérias com obrigação de serem simpáticas. Algumas eu percebo que são simpáticas por natureza, em outras está explícito que estão mesmo representando um papel.
Algo que desmistificou, é que todo comissário é homossexual. Conheci váaaaarios amigos delas que são heteros com H maiúculo, e super galinhas. As comissárias não dão muita bola pra passageiro não, aliás elas tem uma certa implicância e eu acho hilário ela imitando “a gente” pedindo as coisas, reclamando e fazendo as coisas que elas mais odeiam, que é levantarmos quando ainda não fomos autorizados. As histórias que vem depois aaaaah são ótimas. Tem até algumas comissárias que ligam na cabine e avisam o piloto que tem gente em pé no momento do pouso, pois deveriam estar sentados esperando a autorização de abrir os cintos, então o piloto dá uma brecadinha assim bem “suave” pra colocar todo mundo no seu devido lugar.
Tem os bêbados, as crianças, puxa, tem muita história. Sabendo já disso, sem querer ser chata eu lavei a mamadeira da Luna no banheiro e quando contei pra ela, levei uma bronca. Não é bem assim, tem mãe que abusa sim, mas pedir pra lavar uma mamadeira é muito bem vindo.
Adoro quando ela conta dos famosos, que dormem, roncam, dão pitis. Em uma situação ela pegou a Luana Piovani indo pra Buenos Aires, dormindo de boca aberta, quase babando e a cabeça meio caída de lado. Pena que não tinha nenhum paparazzi. Falam que a Elba Ramalho não se dirige aos comissários, pede pra quem está com ela pedir sua comida, que o Cauã Raymond é ultra simpático, que a Angélica o Huck e o Joaquim voam de executiva mas a babá vai de econômica. Mas como é a Angélica, a babá pode invadir a área VIP pra ajudar a madame, e depois volta lá pro povão.
Curiosíissimos os contos, dariam um bom livro. Ela adora o que faz, apesar de ser um ambiente de muitas fofocas e intrigas. Imagine muita mulher junta o que poderia dar? Apesar de ela amar a profissão, que dá a oportunidade de poder conhecer várias cidades do mundo e do Brasil, eu sinceramente amaria que ela trabalhasse “em terra” mesmo. Queria que ficasse comigo, olhando eles pousando e decolando, mas lá no chão, quietinha e hipnotizada, como eu.