Sou totalmente a favor do parto normal, não do natural… aliás a favor sou, mas não tenho coragem o suficiente pra encarar um deles, e nunca isso me passou pela cabeça, pois sou extremamente fraca pra dor e desistiria na primeira dor insuportável que aparecesse. Não esperei que tudo fosse acontecer tão depressa, sintam o drama:
7:30 da manhã – senti alguma coisinha vazando na cama, mas bem pouco, não era a bolsa estourada, não sei o que era mas algo era.
8:00 – Mancha de sangue, mas de acordo com o médico, só ligar se fosse sangramento como menstruação, não era o caso
8:15 – Aquele tal do “tampão” apareceu. Hora de ficar alerta, já avisei minha mãe que estava de orelhas em pé.
8:30 – Contrações começam, mas espaçadas. Plano: Sergio leva Luna a escola e minha mãe iria comigo pro hospital logo após deixar a Luna pronta, e depois ele iria direto pra lá. Começo a ligar pro médico e não consigo, a linha caía quando atendiam. Comecei a arrumar uma mochila de coisas já que a mala não estava pronta.
8:50 – Com as contrações aumentando e o intervalo entre elas já menos que 5 minutos, mudamos os planos e Luna não vai mais a escola, fica com minha mãe e vou com Sergio pro hospital. Já sentindo dores fortes fico aguardando ele sair do banho.
9:10 – Descemos pra pegar um taxi. As contrações estavam já bem fortes, não tem serviço de rádio taxi como em São Paulo, então ficamos esperando algum vazio passar, o que estava difícil, e chamar o car service com o nervosismo da dr, nem passou na cabeça, e quando passou não conseguíamos ligar. Desespero começando, aumentando.
9:20 – Taxi aparece
9:40 – (aproximadamente) Chego ao hospital
10:07 – Lorenzo nasce.
Esses 47 minutos, desde que peguei o taxi até ele nascer, me pareceram 1 ano de dor e sofrimento. Impossível existir uma dor maior que a dor do parto… em diversos momentos eu me desesperei por achar que não ia aguentar o tranco. Fui o caminho inteiro no táxi me contorcendo a cada 3 minutos, as vezes menos, toda vez que a dor vinha. Ao chegar no hospital, eu não via mais nada, de tanto que doía. Entrei pela entrada principal, já avisando ao segurança que estava em trabalho de parto, e ao invés de ele me trazer uma cadeira de rodas ou chamar alguém, me disse: “corra pro 12 andar”. Fiquei lá esperando o elevador como qualquer pessoa que estava alí, e de repente a bolsa estoura lá mesmo, esperando o elevador. Era MUITA água caindo pelas minhas pernas, encharcando minha calça, minha botinha de pano e minhas meias, parecia uma cachoeira, não parava… Chega então o elevador, eu nem tinha forças para ir até ele, que lotou rápido, e decidimos esperar o próximo. Eu só me lembro de entrar, gritar de dor, da tempestade de água escorrendo entre as pernas, o desespero de saber que eu não teria alívio daquela dor tão cedo, pois ainda teria que preparar várias coisas antes de receber a anestesia. Dentro do elevador as pessoas estavam quietas, como se nada tivessem vendo ou ouvindo, apenas uma se limitou a dizer: “está quase chegando”… e eu só via os botões 4, 6, 9, 11 acesos antes de chegar o 12 andar. Quando as portas abriram, eu não conseguia andar, só me encolher na parede, com o Sergio me segurando e pedindo força pra chegar, mas ao ouvir meus “urros” lá em cima, logo vieram com a tão difícil cadeira de rodas… direto pra sala de parto. Eu só dizia uma coisa além de berrar, “QUERO A EPIDURAL!” e só ouvia uma coisa: “Já vamos ver! “.
Entrando na sala, fomos tirando a roupa logo, correndo, toda molhada e água ainda descendo. Era MUITO líquido, que eu não tinha visto na gravidez da Luna, quando a bolsa também se rompeu, acho que a do Lorenzo explodiu, não apenas estourou! Dentro da sala só se ouvia um coisa “EPIDURAL!” I NEED EPIDURAL!” e a residente logo depois de pedir calma pra me examinar avisa que estou totalmente dilatada. Chegam enfermeiras, e minha médica já avisada, estava a caminho. Cada enfermeira que se apresentava eu perguntava “Voce pode me dar a Epidural?” e ouvia a mesma resposta: “vai ser mais rápido você começar o parto e tentar empurrar do que esperar o soro inteiro que você precisa tomar antes de receber a anestesia”. Não, aquilo não estava acontecendo, não podia imaginar ter um filho com parto natural assim, com aquela dor insuportável sem ter nada pra aliviar. Continuava a pedir a anestesia e falando pro Sergio que eu não aguentava mais aquela dor horrível, que parecia infinita. A residente estava pronta pro parto, pois a médica ainda não havia chegado, e quando chegou logo em seguida, nem tempo de se trocar teve, a cabecinha já estava embaixo e eu já tinha decidido começar a empurrar pra me livrar da dor o mais rápido possível.
Começamos o push, e eu mal conseguia seguir as direções das médicas de segurar minhas pernas abertas e pra tráz. Sergio que ficou tentando segurar e me fazer segurar, pois eu precisava ficar na posição correta. Quando achei e avisei que ia desmaiar, ouvi uma dizer: “Ah pode deixar que quando a contração vier ela acorda”. E em 5 “pushs” ouvi um pedido para parar um pouco, não sei se o cordão estava no pescoço ou se era porque eu estava fazendo rápido demais e poderia “rasgar” mais do que o necessário. Parei um pouco, e recomecei, foi quando vi a cabecinha dele saindo, a parte mais dolorosa do processo, depois das malditas, horrendas e macabras contrações. Logo depois veio a sensação de alívio, quando o resto do corpinho saiu, parecendo que tinha sabão, e essa sensação foi simplesmente maravilhosa. Com a Luna eu não senti já que estava anestesiada, ou então senti menos.
Lorenzo não chorou logo de imediato, precisou de ajuda pra começar a respirar, e fiquei preocupada até ouvir o seu chorinho. Como a Luna, ele chorou muito pouquinho… mas senti por ele não ter vindo direto pros meus braços, e ter ido pro bercinho primeiro para fazerem o pulmãozinho funcionar. Fiquei algumas horas anestesiada mentalmente, com todo o sufoco que passei, as dores, a correria, tentando entender direito como tudo aconteceu. Obviamente, não deu pra filmar, quem fez o parto foi a residente já que a minha médica não teve tempo de se trocar, mas ela ficou lá ao lado acompanhando tudo. Todo mundo correndo, e nem meus sinais vitais foram monitorados, não deu tempo, só deu tempo de conectar os do bebê. Se o Lorenzo um dia reclamar que o parto ele não foi filmado, como o da Luna, vou dizer que a culpa não foi nossa. Ele que não esperou!