Essa tal praticidade…

Eu adoro a praticidade americana. Eu odeio a praticidade americana. É maravilhoso ver nas prateleiras as milhares de soluções que eles inventam para facilitar sua vida. Como já mencionei antes, a maneira que as janelas são feitas simplificam muito a limpeza, os produtos como esse pro banheiro, que se passado todo dia evita que acumule restos de sabão e crie aquela coisa horrivel nos azuleijos e cantos da banheira e muitas outras soluções que eles tem para que tudo fique mais fácil de ser feito, mais rápido e com eficiência. Até aí eu apoio totalmente a filosofia da praticidade deles. Quando a coisa começa a passar pro descaso e relaxo, é onde eu não suporto.
De tão práticos, eles não querem ter trabalho com nada. As coisas são feitas nas coxas, o atendimento é precário porque eles não querem ter trabalho e pensar demais, acabamentos porcos, limpeza à jato. Você vai na loja, pergunta coisas pros vendedores informações sobre produtos, “qual a diferença desse aqui pra esse aqui?” a resposta, sem muito esforço, normalmente se resume em “ah só muda o modelo que esse é mais novo”. Olhar no manual, perguntar pra alguém mais experiente? no way. Vai na loja de roupas, pergunta assim: Como usa essa camisa? esse cinto amarra pra frente? A resposta normalmente é: Ah é como você quiser, pode ser pra frente, pra trás… No Brasil a vendedora normalmente é muito mais antenada com a moda, te dá opcões e sabe responder verdadeiramente como o estilista programou aquele cintinho, pra frente, pro lado ou pra trás e ainda sugere o que combinar.
A diarista eu já desisti de ter uma. Apesar de só ter o final de semana livre pra fazer a limpeza da casa, não consigo simplesmente pagar 70 dolares para ver alguém vindo na minha casa, ficar por 3 horas limpando tudo por cima, nas coxas, sem nem tirar coisas do lugar pra limpar. Um dia chego em casa e vejao que na mesa de jantar ela nao tirou nem aquele treco que botamos no meio, que aqui chamamos de “runner” e nem o prato central. Limpou em volta deles, e no chão da cozinha, onde estavam as 3 garrafinhas de água, lá ficaram, ela varreu e passou pano “em volta” delas. Sinto muito, mas isso vai além de tudo, eu não consigo MESMO ver que no meu tapete, onde tinha uma linha preta que caiu, depois de um dia de faxina ela continua lá. Bye. Fico com a casa suja até eu conseguir limpar, mas não consigo ver isso e aceitar.
Pintor lixar parede? Lizar as portas antes de pintar pra retirar as camadas anteriores? Não existe. São milhares de camadas de tintas nas paredes e portas, a cada morador que se muda do imóvel. Acabamentos em cantinhos não existem, tirar a fechadura e os espelhos das tomadas para pintar é coisa de outro mundo. Nada precisa ser com capricho e ficar bem feitinho, perfeito, dando pra quebrar o galho, é onde acaba o check de qualidade deles. Olhem nas fotos o que aconteceu com o taco. Não juntou, não deu o tamanho? beleza, deixa o buraco mesmo. Eu reparei nessa falta de capricho e cuidado quando fui a Hstern aqui em Ny em plena 5ª avenida. Olhei pro teto e vi as placas de madeira, com espaços nos rejuntes, desalinhadas… No Brasil esse tipo de serviço jamais seria aprovado no nosso “controle de qualidade”. Somos exigentes, pagamos e exigimos que as coisas sejam feitas como devem ser.
Lembro que o arquiteto japonês Yoshio Taniguchi, responsável pela reforma do Moma, ficou tão descontente com o trabalho de acabamento dos americanos, que pediu para vir direto do Japão, coisas que poderiam ser feitas aqui, com encaixes milimetricamente planejados, mas que americano algum perderia tempo para alcançar esse tipo de resultado.

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