Fiquei imaginando no dia em que pipocou o caso do Ronaldo e os travestis, quanto os celulares dele deviam estar tocando. Amigos consolando, outros querendo saber mais sobre o que aconteceu, alguns tirando o maior sarro da cara dele, os parentes mais próximos dando uma força ou lamentando o ocorrido, a imprensa atrás como urubu na carniça, e quantas ex- namoradas morrendo de rir, outras dizendo bem feito, e poucas realmente em solidariedade. Quantas palavras, desejos e sentimentos pelo escândalo das aventuras sexuais do Fenômeno.
Na internet lí uma famosa dizendo que Ronaldo pode ter relacionamentos sexuais com quem e como ele quiser. Na teoria é lindo mesmo, ele é um ser-humano, dono do seu nariz, que tem direito de fazer da sua vida o que bem entender e ninguém tem nada com isso. Mas na prática, é bem diferente. Ronaldo é celebridade, é ídolo, admirado, e justamente por esse interesse em cima dele, é que ele ganha dinheiro cada vez mais. De uma forma mais indireta, todos sim estão envolvidos na sua vida. Quando ligamos a TV e vemos nosso atacante ganhando o título de melhor do mundo, nos enchemos de orgulho, como se ele fosse realmente alguém que vivesse na janela ao lado. Se ele faz um gol após todas as críticas da copa de 2006 nos sentimos vitoriosos junto com ele, calando a boca de tantas pessoas que foram contra. Se Ronaldo se machuca, putz, ficamos arrasados, sentimos por ele, torcemos e muitos rezam para que dê a volta por cima.
Como agora podem querer que diante dessa notícia essas mesmas pessoas simplesmente não se metam, não palpitem e pensem que a vida é dele e ele faz dela o que bem entender? Difícil. Cada um vai julgar de acordo com o que pensa, com seus valores, mas não vão conseguir não julgar. A vida de Ronaldo e a de outras milhares de celebridades, não pertencem somente a elas, na minha opinião. Eles estão na nossa TV, no nosso jornal, no nosso monitor, nas nossas revistas. Cada profissão tem seu preço, tem a parte que não gostamos, seja essa o salário, o esforço físico em excesso, o horário puxado, e ser famoso tem a falta de privacidade. Saber lidar com isso, é ser um bom profissional, da mesma forma que em todas as outras profissões saber lidar com a parte ruim do seu trabalho diário, conta muito no currículo. Ser famoso é assim, saber que sua vida é compartilhada, que sua opinião é julgada e suas atitudes analisadas, e não apenas pelos seus parentes, mas sim por milhares de pessoas que você nem conhece, mas que lhe admiram e tem uma parcela de colaboração em onde essas pessoas estão hoje.
Sendo assim, eu acho simplesmente RIDÍCULO quando essas pessoas famosas que em início de carreira dariam tudo para que as pessoas as conhecessem, falassem dela, se interessassem por elas, mas que depois da fama, simplesmente querem que os “indesejáveis” deixem sua vida em paz, pois têm direito a privacidade. AH, eu também tenho direito a trabalhar apenas 8 horas, mas se isso não é possível e minha profissão exige, não posso fazer muita coisa a não ser saber lidar com as horas extras, ou então, procurar outra área onde eu consiga trabalhar apenas as devidas 8 horas diárias.
Teoria é uma coisa, e sim, eu também acho que a pessoa precisa de privacidade, é seu direito, mas nem sempre nosso direito é exercido, e se é assim com os seres “normais” por que não poderia ser com “eles”? Ainda bem que o Ronaldo parece entender mais isso, uma das coisas que me faz gostar dele, agora tem outros por aí…