Estou me tornando anti-social, fato. Tenho essa certeza toda vez que tenho que conversar com alguém que não conheço. Cheguei ontem na lavanderia e tinha uma mulher, com uma imensidão de roupas, ocupando todas as máquinas. Como foi um sacrifício descer com toda a minha imensidão também + carrinho de bebê, resolvi sentar e esperar. Mas o que mais me incomodava mesmo era a presenca de outra pessoa naquele espaço pequeno. Depois de tirar as roupas de 3 maquinas e encher mais 2, ela finalmente foi embora. UFA, que alívio, poderia começar a colocar as minhas na única disponível estando sozinha por lá, só com meu baby. Logo chega uma babá com o carrinho de bebê também, e com sua cestinha de roupa suja. Já foi escolhendo sua máquina, ou seja, uma a menos para mim. Acho que ela tinha que ter entrado na fila como eu, mas tudo bem, o pior mesmo era ter que ficar papeando, ao menos ela era simpática, mesmo porque se não fosse, ela nem teria puxado papo.
Mais uns minutinhos e volta a primeira mulher para tirar suas roupas, e pronto, a reunião na lavanderia estava feita, as duas engataram o maior papo (já se conheciam), e eu as vezes participava, respondendo às perguntas sobre Lorenzo. Tive a segunda constatação triste do dia, além de anti-social, estou perdendo minha habilidade de multitask.Enquanto elas falavam, e eu também, não conseguia me concentrar nas roupas que colocava na máquina, quais precisavam produto tira manchas, em quais eu deveria colocar amaciante, alvejante… enfim, de novo desejei que me deixassem sozinha, mas dessa vez era por questão técnica mesmo! Foram 7 maquinas de roupa, e outra constatação, a de que as mães Nova Iorquinas, são mesmo guerreiras. Já estou aqui há 11 anos, sei como funciona viver sem ter ajuda, a gente tendo que fazer tudo praticamente sozinha, mas elas tiram de letra, e ainda cantam felizes! Essa mulher que voltou, teve que trazer sua filha nas costas, com aqueles “carregadores” de bebê. A menininha ficou lá quietinha, enquanto a mãe, super ágil, rápida e tagarela, conversava ao mesmo tempo em que tirava abaixava para tirar o monte de roupas da máquina e dobrava as que já estavam secas. Tudo isso com a filha de 1 ano lá atrás, que as vezes reclamava e a mãe no meio das atividades, ainda dava uns pulinhos para acalmar a menina, quando ela ameaçava chorar. Já estava achando-a o máximo, minha heroína, quando ela começou a contar que a filha dela tinha nascido de 25 semanas.
A bolsa estourou no avião, na volta de Houston para New York, e a bebezinha nasceu, de cesária de emergência com apenas 650 gramas. Ela contou que aos 5 meses, sua barriga estava começando a aparecer, nem teve o prazer de se sentir realmente gravida, de barrigão. Foram 91 dias em Houston, esperando a alta da filha. Hoje, ela com 1 ano, é perfeita, sem sequelas, e a mãe com um astral ótimo, nos contando que toda semana tem 7 máquinas de roupas para lavar, e a pequena Olívia, está lá sempre com ela. Fiquei encantada em ver como hoje em dia, crianças que nascem tão precocemente, conseguem sobreviver fora do útero, fiquei imaginando a barra que deve ter sido, passar por tudo isso sem a certeza de que ela teria a filha com ela nos braços voltando para casa.
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